Bom, para já, é bom estar de volta a estas coisas dos blogues, depois de um interregno de muitos meses, forçado que fui a isto por ter sido acometido de uma estirpe particularmente nefasta do vírus da preguiça, animal torpe que infundiu os meus sentidos de uma total falta de urgência…
Mas agora que voltei, para gáudio de meia dúzia de alminhas, tenho algo de fantástico (pelo menos para mim), para contar, a minha viagem a Londres no fim-de-semana de 19 de Junho, para ver a minha estrelinha da manhã, que por lá anda a desbravar caminho, na boa senda dos emigrantes do século passado, não deixando nenhuma hot-stone por virar no caminho para a excelência da estética…
Assim, passo a transcrever o percurso fascinante que fiz, desde que abandonei este país solarengo e fui propelido pelo ar a centenas de quilómetros horários, até à altura em que uma passarola generosa achou por bem devolver-me à origem, no dia 22…
Basicamente tudo começou na Net, em busca de um pacote simpático que incluísse avião e hotel – logo aí, as coisas começaram a abespinhar-se, sendo que essas coisas das low-cost só são low em certas alturas e teimam em só mostrar o cost o resto do tempo, acabando por me aperceber que é preciso dispor de uma flexibilidade – à contorcionista chinesa – nas datas, só para conseguir uns valorezinhos mais ou menos aceitáveis, ou seja, abaixo de extorsionários…
Entre EasyJet’s (que só tem pilotos em fase de recuperação de droga), White’s (que cobra pelo ar que se respira, por milha, e por ida ao WC em voo) e a CatapultAir (que inventei, mas que deve ser mais económica, só se tem de levar a própria almofada e apontar para um campo de algodão…), lá me decidi pela Bristish Airways, voando nos seus garbosos Airbus A320 recauchutados, onde os meus joelhos se moldaram ao encosto de cabeça do passageiro da frente, numa osmose quase perfeita, uma
verdadeira pérola da integração entre homem e peça de mobiliário…
Após um curtíssimo voo de duas horitas, em que tive direito a um repasto digno de um rei (um rei etíope, mas ainda assim um rei…), e de onde me consegui aperceber de um conjunto de ruídos parasitas (que identificavam a aeronave, nitidamente, como urgentemente à espera da revisão das 10.000 horas…), fui recebido com pompa e circunstância por emissários de Sua Majestade, na pessoa de um senhor de tez escura, aconchegado sob um belíssimo turbante púrpura, que me mandou o olhar da morte reservado somente a turistas portugueses e pedófilos belgas – possivelmente irritei-o com o meu coloquial “Good afternoon!” em tons de Reviver o Passado em Brideshead…
Em menos de nada, o transfer-bus (sim, que em Londres, sê londrino…) levou-me até ao terminal onde, antes de termos acesso às bagagens, todos os passageiros puderam sofrer indignidades várias, que poderiam incluir, em caso de excesso de gracinha, buscas de cavidades corporais e detonação de bagagem por peritos – eu, como vinha no pacote mais barato, fui apenas forçado a manter a cabeça quieta enquanto o sistema de identificação biométrico, (portador de artrite e Parkinson, em simultâneo) fazia o possível por me desenquadrar da moldura…
Após, e apesar de tudo, ter sido o primeiro a chegar ao tapete, fui brindado com mais uma daquelas coisas karmicas, na pessoa do “a minha mala foi a última a chegar”, entre dois sacos de desporto que faziam tique-taque e uma mochila da Eastpack que tinha autocolantes de tantos países como o caso Maddie tem buracos…
Lá saí dali, arrastando o meu levíssimo trolley, de apenas 14 quilinhos, até à paragem de táxis mais próxima, onde pude escolher o mais disponível, (neste caso o menos desagradável), um clássico London Cab, novinho em folha, conduzido por um britânico que, (pasme-se), tinha morado já em Portugal nos anos 60, e cuja primeira namorada se tinha chamado Natália Pedrosa (eu juro que não tinha perguntado nada, mas ele lá contou a história toda de como adorava Portugal, “Liii-sss-Bãua” e outras coisas assim), e que me disse que o Hotel para onde eu ia era o equivalente a a um 4 estrelas na santa terrinha, (o que me deixou deveras animado)… Quando cheguei cobrou-me perto de 50 libras pelo privilégio da conversa certamente, e ainda queria o troco!! Estes bifes….
Em retrospectiva, devia ter ficado desconfiado quando à chegada havia mais gente atrás do balcão do que à frente mas, ingenuamente, pensei que isso fosse sinal de um a grande investimento na formação (e na multi-culturalidade, que não havia um inglês à vista, só romenas, croatas, paquistaneses e um hindu – já agora, eu sei que hindu não é nacionalidade…) – pedida a chave do meu quarto (felizmente era uma de cartão magnético, deduzi eu como sinal de modernidade) e aí começaram as complicações – o Blakemore Hotel estava em obras de renovação e o elevador a ser remodelado – tinha de ir pelas escadas, passando por 3 portas de segurança que diziam explicitamente em inglês, “Não Abrir. Porta Corta-fogo”. Mas que raio, pensei eu, só se vive uma vez. Abri-as, à medida que ia arrastando o meu trolley sobre uma alcatifa tão fofa que poderia esconder um exército de pigmeus, e cheguei a uma parede, virando à direita para evitar a colisão. Ansioso e expectante, subi as escadas, conforme me fora indicado…
A parte gira é que a escadas tinham o mesmo tipo de inclinação das de um navio cargueiro do século passado, o que, somado ao revestimento hiper-fofo, permitiu que o meu trolley galgasse os 11 degraus (que eu contei-os, sim…) com toda a desenvoltura de um gafanhoto coxo e alcoolizado… Chegado ao topo, e ainda ofegante, dei de caras (literalmente) com a porta da minha suite ali, sozinha no patamar, sem sequer direito a um piso.
Ainda a sorrir entrei… e o sorriso desvaneceu-se como que por magia – lá dentro, num espaço opulento de 2 metros por 4, a minha vista abarcava o que deveria ter sido uma suite e era antes um armário dos fundos, disfarçado de quarto de hotel. Uma cama mínima, um
armário com arrumação para mais de 6 cabides (bem encostadinhos), uma tv de ultima geração com 4 (!) canais, montada num fascinante suporte giratório em aglomerado de madeira descascada, um jarro para aquecer água, uma tábua de passar a ferro/engomadeira de calças com ferro e, milagre da arrumação, uma completíssima casa de banho (com retrete, lavatório, espelho e duche, tudo num cubinho de 1,50 por 0,60 m!).
De alguma forma, senti-me enganado pois devia estar a pagar qualquer coisa como 100 euros por noite pelo armário do hotel, o que me parecia exagerado. Armado de indignação, dirigi-me à recepção e solicitei um upgrade – disseram-me que sim senhor, mediante uma pequena taxa de cerca de 50 euros/dia, mas só no dia seguinte. Ok, pensei eu, entretanto há-que aproveitar. Era tarde para almoçar no hotel, fui à procura de um típico “english restaurant”, e encontrei, em Queensway… Uma pizzaria!
Porreiro, pá…

Bom, encurtando este rol de experiências tão fascinantes como ver tinta secar, assim que a minha menina chegou, à hora do dinner, tudo melhorou, felizmente… (saltar cenas de carácter eventualmente chocante) …pelo que de seguida fomos jantar, para retemperar energias, a um fantástico restaurante tipicamente… grego! Comemos fantasticamente bem algo que se chamava manoptikon ou coisa assim, e era praticamente um cabrito inteiro, assado, no prato com batatas fritas – muito nutritivo e extremamente suculento, recomendo vivamente.
A parte gira foi no regresso ao hotel, onde tentámos partilhar a dita cama feita para anões anorécticos, já povoada por um colchão extremamente fofo (leia-se sem consistência) e temos uma noite perfeita… Ai, ai, as coisas do amor, que só me apercebi que tinha dormido em má posição quando acordei sentado no dia seguinte…
Os passeios dos dias que se seguiram, esses sim, foram excelentes, e incluíram uma visita a
Portobello Road, local da mais famosa feira da ladra de
Londres, perto da conhecida Notting Hill, onde desde velharias verdadeiramente inúteis a antiguidades caríssimas se encontrava de tudo, num maralhal incrível de londrinos, turistas e artistas de rua, num colorido impressionante, e logo depois seguimos para o Memorial da Princesa Diana, em Hyde Park, a área verde mais famosa da cidade, com dois enorme lagos, um deles repleto de cisnes, com umas cadeirinhas à volta (a cobrar 1 libra e meia por 2 horas…) e vários mini-jardins lá dentro, onde descansámos um pouco a fazer tempo para visitar a Torre de Londres, (e lá vimos uma representação de alguns acontecimentos dramáticos no tempo de Henrique VIII, bem como as Jóias da Coroa, uma exposição alusiva aos maiores feitos do dito rei, a casa da tortura e outras coisas giríssimas do
cortador de cabeças favorito dos ingleses), depois de termos passado pela London Bridge, e seguindo-se uma noitada (que em Londres acaba perto da meia-noite) em Picadilly Circus, que foram absolutamente inesquecíveis, sempre usando aquele sistema de metro super organizadinho que eles têm – é quase impossível
perdermo-nos , tal é o nível da informação disponível em cada esquina. Ainda assim, e como é natural, perdi-me umas 3 vezes…
Em relação a Picadilly, diga-se que nunca tinha visto tanta miúda a aparentar carteira profissional da mais velha profissão do mundo sem (eventualmente) a ter, já que quando as londrinas vão para a night, vão mesmo muito artilhadas – desde rapariguinhas de 12 anos armadas em 18 até quarentonas armadas em miúdas, via-se de tudo, e,
convenhamos, com os cinemas a fazer a última sessão às 21 até era compreensível que as pessoas quisessem beber para esquecer… Muita gente podre de bêbeda, algumas caídas pelo chão, sem que ninguem parecesse afectado com o
espectáculo, clubes nocturnos a abarrotar (por serem os únicos sítios que ainda servem álcool pela noite dentro) e alguma polícia espalhada pelas imediações, não fosse o diabo tecê-las…
Entretanto, não queria deixar passar o facto de que Londres tem carros fantásticos que por cá nunca, ou muito raramente, se vêm – desde Rolls Royce’s Silver Shadows, a Bentley’s GT e Continental R, passando por toda a gama de luxo da Lexus (os
híbridos todos…), Ferrari’s F-50, Aston Martin’s Vanquish e DB9 e até um Maybach!! (que para quem não sabe é a gama de ultra-luxo da Mercedes) – só não tirei fotos para não parecer ainda mais saloio e turista do que já parecia certamente… Outra coisa de que qualquer pessoa se apercebe é a limpeza geral das ruas, e até do próprio metro, que é mais sinónimo de civismo nos cidadãos do que de uma eficiente força de serviços camarários. Também de realçar será o facto de que Londres é
grande. Muito, muito grande, tão grande que nestes dias apenas percorri um décimo da sua superfície e deixei, nessa pequena fracção, muita coisa por ver. Portanto, para quem esteja a pensar visitar, levem as coisinhas que querem ver pensadas em Portugal e depois corram!
No dia seguinte, voltámos a Picadilly, que à luz sombria e nebulosa de uma manhã londrina tem outro charme, onde visitámos o Museu do “Ripley’s Believe It… Or Not”, repleto de insólitos e algumas coisas verdadeiramente surpreendentes, como bezerros com duas cabeças, aberrações
humanas, um pedaço enorme do Muro de Berlim, uma casa de pernas para o ar, ilusões de óptica, enigmas ancestrais, meteoritos, casas de espelhos, enfim, de tudo um pouco e com uma portuguesa na bilheteira!!! 
Depois, ainda meio confusos, passeámos até Baker Street, mais precisamente ao 221-B, onde visitámos o Museu do Sherlock Holmes (esta é, para os leigos, a casa onde se filmaram todos os episódios das séries e onde o escritor Sir Arthur Conan Doyle imaginou o lendário detective a viver…), e onde encontrámos uma loja de merchandising muito gira, montes de adereços da série, espalhados pelos quatro pisos da casa, mais a cave, e um simpatiquíssimo e culto senhor inglês a fazer de Watson e a posar para fotos com os turistas).
Admitidamente foi uma emoção muito maior para a Ana do que para mim, mas não deixou de ser fantástico estar no que era, na realidade, um set/museu de algo tão emblemático como o foi Sherlock Holmes.
Saindo dali, e sem comprar nada, fomos cuscar o London Eye, a maior roda gigante do mundo (bem, cuscar não é o termo certo, é mais “andar no”…), de onde se tem, facilmente, a melhor vista de Londres, com um horizonte repleto de prédios clássicos e ultra-modernos, jardins plenos de vida e animação e uma afluência turística digna de uma das maiores cidades do mundo, bem como uma vista privilegiada para o Big Ben e o Parlamento. A Ana aproveitou para descansar os pés um bocadinho, (que o estilo tem um preço,e no caso dela eram já umas bolhinhas muito fashion), enquanto eu fotografava tudo de lá de cima e ate fiz um pequeno filme a 360 graus, que só não reproduzo aqui por ter ficado pouco nítido…
Lá pertinho, entrámos no Movieum (o Museu do Cinema), com uma exposição
excelente de Beatles, Star Wars e mais coisas giras, em que vendiam
adereços exclusivos de certos filmes icónicos, bem como células originais de algumas obras primas do cinema, e onde tirei umas fotos excelentes – ah, e nos tiraram mais duas num dos sets original do Episódio IV da “Guerra das Estrelas”, de sabres de luz em punho…). Realmente é um sítio fantástico, sobretudo se são apanhadinhos dos filmes, como eu… Entretanto, perto da 19, saímos e fomos jantar a Picadilly, finalmente, num verdadeiro restaurante inglês (eu sabia que tinha de haver algum, algures…), com serviço de balcão e mesas, muito estilo pub mas agradável, com um lote de refeições muito em conta – gostava mesmo de me lembrar do no… E lá voltámos, cabisbaixos, tristonhos, para o hotel de onde nos despedimos para só nos voltarmos a ver… Nem sei bem quando…
Mais recentemente soube que a minha menina terminou a sua formação na Academia da Steiner, em Wattford, e ia a caminho do seu primeiro cruzeiro, o Ruby Princess, a jóia da coroa dos navios daquele armador – capacidade para mais de 3 mil alminhas, 5 piscinas, uma delas com corrente simulada, cinema ao ar livre, espectáculos da Broadway, 2 shoppings, um super spa (em que a Ana vai brilhar, sem dúvida…), enfim, uma cidade flutuante… Deixo-vos aqui algumas imagens do navio, bem como um link para a página da
Princess Cruises, de forma a permitir que se babem profusamente de inveja…
Deverá ter chegado a Veneza ontem, e irá embarcar muito em breve na sua maiden voyage (dela, na do cruzeiro), e viajar por destinos como Piraeu (Grécia), Barcelona, Lisboa, Funchal, Ponta Delgada e, por último, Fort Lauderdale, na Flórida. Já agora, nesse último trecho de quase 15 dias no mar, ela atravessará o Triângulo das Bermudas, na época mais profícua de desaparecimentos e ocorrências misteriosas, como luzes submarinas inexplicáveis, fenómenos atmosféricos incompreensíveis e mistérios milenares ligados a tudo, desde a Atlântida, extraterrestres, seitas druídicas, distorções espacio-temporais e até conspirações governamentais.
Escusado será dizer que tenho alguma preocupação do que possa acontecer se algum destes fenómenos se interpuser entre a Ana e os seus planos de futuro – se houver aliens à mistura, não dou muito pela saúde deles, que ela simplesmente não vai permitir interferências de malta encarquilhada de olhos esbugalhados, sem roupa (!), a não ser que tenham pago passagem no Ruby Princess… Quanto aos outros fenómenos, inteligente e cheia de recursos como é, estou certo de que conseguiria contornar quaisquer eventuais dificuldades com o seu sorriso de estrela de cinema e a sua atitude positiva. Já o resto dos passageiros poderá não ter tanta sorte…
Bom, já vos entediei o suficiente… Isto deve ter sido tão giro como tirar um dente do siso mas eu não saberia, os meus não chegaram a nascer!
Abraços e beijinhos!